Filosofia e Estética - exercício 2 parte 3

 

exercício 2 parte 3

Fernando E. Correia

FASM Artes Visuais, Filosofia e Estética

Prof. Felipe Soeiro Chaimoviths

São Paulo, 13 de novembro de 2020

Construa um parágrafo dissertativo sobre a relação entre arte e liberdade política, com a seguinte estrutura:

Frase 1: "A arte pode conduzir à liberdade política pode meio de..."

Frase 2: "Por exemplo, a obra (nome da obra de arte), de (nome do ou da artista) forma o valor da liberdade quando..."

Frase 3: "Como outro exemplo, a obra (nome da obra de arte), de (nome do ou da artista) forma o valor da liberdade quando..."

O exercício deverá ser postado como texto ou em WORD para o professor.

 

A arte pode conduzir à liberdade política por meio de mostrar como o indivíduo precisa premeditar sua aceitação ao meio para subvertê-lo.

Por exemplo, a obra Um sonho de liberdade, de Frank Darabont, o personagem principal Andrew Dufresne vivido por Tim Robbins é um alto bancário executivo acusado de estuprar e matar a própria mulher. Um crime para o qual se dizia inocente. O filme vai confirmando a tese do bancário enquanto os anos vagarosamente se passam. E a liberdade do indivíduo se dá por caminhos da persistência por dentro do sistema prisional, quando ele oferece seus serviços de contabilidade para os policiais em troca até de 4 cervejas para eles e seus colegas de presídio, mas também pela conquista, direito e emancipação por meio da insistência de enviar toda semana uma carta para o equivalente à Secretaria de Administração Penitenciária pedindo fundos para reformar a biblioteca. A formação do indivíduo se dá desde a base: ele chegou no presídio e não chorou, embora muitos tenham apostado que ele seria o primeiro a chorar. Mas o filme revela que com persistência e parcimônia os meios de liberdade se revelam até dentro de um presídio. Pouco a pouco Dufresne vai construindo um túnel para fugir sem que ninguém perceba pois ele descobre que a parede de sua cela é de uma rocha macia. Sua regalia para ter um poster na parede foi um item fundamental para esconder o túnel. E nesses pequenos detalhes o filme revela que até num presídio se pode construir as condições de liberdade política. É um filme de 1994, data onde muitas nações ainda estavam sobre regimes fechados ou recém abertos a uma política mais comunicativa entre nações. O filme é brilhante onde mostra que até as injustiças mais vilãs podem ser subvertidas em favor da liberdade dum indivíduo. Pois o personagem fantasma que Dufresne criou para o diretor do presídio acumular os lucros desviados dos trabalhos forçados aos presidiárias, no fim, foi mudada a identidade fantasma para o próprio Dufresne. Dufresne assumiu a identidade fantasma e se tornou riquíssimo! Assim, o filme conta que a inteligência e a sagacidade está presente nos ambientes mais hostis. E nessa grande ficção transmite que se até o mais desgraçado dos inocentes encontrou sua liberdade, do lado de fora dos muros de um presídio nós podemos fazer valer mais nossa liberdade.


Cartaz do filme de título em português: Um sonho de liberdade

 

Como outro exemplo, a obra Melancia, de José Antônio da Silva forma um valor de liberdade quando mostra que a revelia da urbanização, da verticalização, a realidade da vida -e melancia é uma expressão do que a vida na natureza é capaz enquanto generosidade – mas também a realidade de vida do campo está com os elementos dados para uma qualidade de vida maior para quem assim o desejar. Em muitas de suas obras ele não esconde a dureza do trabalho braçal. Mas ele revela o prêmio de uma vida mais agradável, mais livre, às intempéries de reclusão da formalidade cosmopolita. É um jeito que o artista encontrou de dizer que há outra vida a ser vivida e de que a natureza é um componente necessário a felicidade, assim como uma vida menos ligada às atividades de consumo. A puerilidade e a beleza das coisas simples do campo, as vaquejadas, as plantações e colheitas, os aspectos elementares da vida formam uma narrativa de um ser e estar que permite o homem pensar em ser feliz onde ele está no presente momento. Isso transcende a figuratividade dos temas e empresta para outras condições de vida a satisfação, emancipação e reconhecimento de que as forças elementares da situação de vida já são ricas o suficiente para se obter felicidade. Não precisamos do carro do ano, do melhor salário ou da mulher mais bonita, precisamos apenas observar o entorno e ver que em tudo há valores positivos que podem ser apropriados pelo ser humano. Até uma melancia cortada. O que há de belo na simbologia de uma melancia cortada? Sua dulceza, seu tamanho generoso, sua facilidade de corte, sua beleza. Sua riqueza de detalhes pela casca grossa e fácil de cortar e abundância de sementes. Sua quantidade de água, o bem-estar que ela provoca após sua ingestão. É o anti-milk-shake completo. Não precisa de sorvete, gelo, leite; já está tudo lá, numa fruta que rasteja aos nossos pés quando cresce.

Assim, J.A. da Silva nos conduz a um pensamento de liberdade política pela aceitação da realidade que o artista vive para o público encontrar, em seu entorno, as dulcezas da vida aonde ele está no exato momento, assim como o artista encontrou na dura realidade do campo, a vertente preferencial de um hedonismo rústico, elementar e verdadeiro. Aonde estará isso na cidade, nos meios de comunicação, na atividade política enquanto eleitor? Eu acho a relação que J.A. da Silva tem com sua realidade, o campo, revela um jeito de aceitarmos nossas realidades de vida para subvertê-la pela simplicidade, e não pela complexidade do acúmulo via consumo, da intelectualização, do estudo excessivo. Mas de encontrar paz onde a paz está: nas coisas básicas e graciosas da vida, por mais difíceis que sejam, como uma vaquejada, por exemplo, ou contentar-se com uma simples melancia assim como ele, como pintor, contentou-se com apenas uma fruta para uma natureza-morta.

Nesse sentido, Agostinho Batista de Freitas visa dar a identidade aonde ela está, das cenas cosmopolitas. É uma vertente urbana de J.A. da Silva. Freitas busca revelar que a identidade urbana está onde ela já está; e assim subverte, pela aceitação, o ímpeto por verticalidade e novos skylines que motivavam o crescimento vertiginoso dos EU da América.

Ver que a prisão, o campo e a cidade já estão bons, já são campos de construção de resistência e liberdade pela aceitação dos meios com os quais são dados e interromper o ímpeto por algo a mais é libertador e, talvez, seja político também. Ao revelar que a liberdade está do lado de dentro de quem vive ou observa uma dada situação.

O que é melhor, sorvete e sua carga industrial ou uma melancia? Ao aceitar a realidade natural, o artista oferece uma subversão pela aceitação do que já está dado. Assim, nos conduz ao reconhecimento do que está dado como solução de vida, sem os anseios e ansiedades de um porvir mais tecnológico e científico. Assim, dá as rédeas do desenvolvimento à um ponto de observamos calmo e preciso de absorver o que é bom para o ser humano e não somente uma locomotiva que precisa de mais tecnologia e ciência como fins em si mesmos de evolução e transitoriedade diante daquilo que já é tão belo e significativo.


Pintura em guache Melancia de José Antônio da Silva

FIM





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