DESINFORMAÇÕES DE FORMAÇÕES
PROJETO DESINFORMAÇÕES DE FORMAÇÕES
DESINFORMAÇÕES EM FORMAÇÕES
DESINFORMAÇÕES FORMAM AÇÕES
E sobre ir adiante mesmo assim
PARA AURORAS
EDITAL PISCINA AURORAS
POR FERNANDO CORREIA
SÃO PAULO, 26 DE FEVEREIRO DE 2021
A proposta está aberta a sugestões, uma vez que já foi debatida com algumas pessoas.
Agradecimentos a Anna Mehoudar, João Correia, Lucas Boto e Ulysses Boscolo
2.1 Ficha de inscrição preenchida e assinada
2.2 Projeto detalhado
Ficha técnica
Produção de 6 (seis) esculturas planas de 80 x 60 cm cada, recortadas em azulejos menores, com a temática de monstros marítimos das publicações européias dos séculos XV e XVI.
Os azulejos serão produzidos em terracota, queimados a 900 graus Celsius, então são pintados e envernizados e requeimados a mesma temperatura.
os azulejos serão afixados sobre as paredes da piscina com cola de silicone logo acima o chão da piscina, ou nas paredes da mesma à altura dos olhos
Exemplo da técnica:
Café da manhã / terracota / 32 x 42 x 1.5 cm / 2020
Esboços
Orçamento e cronograma de execução da montagem e desmontagem do projeto
Orçamento
6 placas de argila de 60 x 80 cm
20 kg de argila por placa, R$ 79,80 cada placa - R$ 478,80 total
Uber: R$ 40,00
1ª queima das 6 placas de argila
2 placas = uma queima = R$ 200,00; 6 placas = três queimas = R$ 600,00
Uber: R$ 40,00
pintura das placas com engobes e vernizes
materiais artísticos por placa = R$ 30,00; 6 placas = R$ 180,00
2ª queima das 6 placas de cerâmica pintadas
1 placa = duas queimas = R$ 400,00; 6 placas = 12 queimas = R$ 2.400,00
transporte das placas até o Auroras
Uber: R$ 80,00
instalação das placas no fundo da piscina
1 placa = R$ 100,00; 6 placas = R$ 600,00
desmontagem da exposição: remoção das placas e das marcas de silicone na piscina
1 placa = R$ 100,00; 6 placas = 600,00
transporte das placas até o ateliê
Uber: R$ 80,00
escada de três andares de vinil para piscina = R$ 450,00
Total: R$ 5.748,80
Cronograma
Produção de seis placas: 3 semanas
1ª queima das placas: 2 dias
pintura das placas: 3 dias
2ª queima: 12 sessões de queima: 14 dias
Montagem: 2 dias
desmontagem: 2 dias
Antecedência necessária: 6 semanas e 6 dias
Os prazos podem ser ajustados com a contratação de mais fornecedores de serviços de queima.
Portfólio
Bela Vista à noite / terracota / 35 x 45 x 2 cm / 2005
Casal no sofá / terracota / 35 x 45 x 2 cm / 2005
Aguardando na janela / terracota / 45 x 35 x 1,5 cm / 2008
Retrato do retrato / terracota / 35 x 45 cm / 2008
Garoto com febre / terracota / 35 x 45 x 1,5 cm / 2005
Visita à namorada / terracota / 45 x 35 x 1,5 cm / 2008
Lua grande / terracota / 45 x 35 x 2 cm / 2005
Massagem nas mãos / terracota / 35 x 45 x 1,5 cm / 2008
Pavão sob árvore / terracota / 35 x 45 x 1,5 cm / 2008
Peixe come peixe / terracota / 35 x 45 x 2 cm / 2005
Cajueiro 4 / acrílica, carvão e giz branco sobre tela / 130 x 150 cm / 2008
Cajueiro 5 / carvão, grafite e giz branco sobre linho / 130 x 150 cm / 2008
Cajueiro 6 / acrílica e carvão sobre tela / 150 x 180 cm / 2008
Estudo de padrões 83 / colagem de policarbonato e EVA / 80 x 120 x 5 cm / 2021
Estudo de padrões 65 / colagem de policarbonato, EVA e glitter / 80 x 60 cm / 2020
Estudo de padrões 74 / colagem de policarbonato / 70 x 80 cm / 2020
Joga a bola para mim! / colagem de policarbonato e EVA / 80 x 120 cm / 2020
Citação ao Grafilho / colagem de policarbonato e EVA / 80 x 120 cm / 2020
Integração 2 / acrílica sobre placa / 50 x 60 cm / 2020
Integração 1 / acrílica sobre placa / 50 x 60 cm / 2020
Minibiografia resumida
Fernando Correia nasceu em São Paulo, SP em 1982. Tem contato desde criança com a prática da pintura o que lhe encanta profundamente e define seu rumo profissional. Em paralelo, a sua trajetória pelo ensino fundamental e ensino médio inserem o jovem artista na complexidade e pluralidade do panorama social brasileiro.
Em 2001, buscando complementar seus estudos com uma perspectiva de mercado ingressou na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Em 2004 tranca a matrícula e inicia uma residência em Ilhabela buscando uma prática artística imersiva e de grande produtividade. Em 2006 retorna à São Paulo e conclui a graduação em 2007.
Mantém a residência em Ilhabela até 2012 quando desenvolve uma nova frente de investigação: os estudos de padrões. Inicialmente inspirados pelas geometrias da natureza esses estudos não cessam quando retorna a São Paulo em 2012 onde vive e trabalha atualmente problematizando outras tradições geométricas nacionais e internacionais.
Em 2020 ingressa na Faculdade de Artes Santa Marcelina e amplia novamente as suas frentes de investigação artística que passam a incorporar esculturas planas e intervenções arquitetônicas enquanto apresenta e comercializa sua produção junto a uma crescente e diversa rede de parceiros entre curadores, galeristas e leiloeiros.
Fernando Correia propõe uma arqueologia singular da identidade cultural Brasileira pela revisão de movimentos históricos marcados pela pesquisa formal e suas interconexões no espaço e no tempo.
Num exercício de alteridade cultural pela gramática das formas, Correia analisa rigorosamente a ressonância global do grito tropical neoconcretista. Problematiza não só a sutileza das formas, mas a resistência dos resíduos políticos orientadores dessas manifestações estéticas.
Partiu de um processo que nasceu como destino e se tornou, nas séries mais recentes, vocabulário de ficções pessoais que habitam ou propõe uma revisão corajosa das tradições que o artista desconstrói.
Currículo
Exposições individuais
Sonho Intenso, Fibra Galeria, São Paulo, 2013
Fotografia de pinturas e uma pintura original – Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) – São Paulo, 2003.
Desenhos e Pinturas / Fundação Nacional da Arte, São Paulo, 2001
Exposições Coletivas e Feiras
47o Salão Primavera de Artes, Museu de Arte Moderna de Resende, vencedor do Prêmio Altamiro Pimenta, Resende, RJ, 2019
Feira Parte 2018, AR Escritório de Arte, Clube Hebraica, São Paulo SP
Coletiva Eikones, Centro Cultural Patrícia Galvão, Santos, 2018
5° Salão de Outono França- Brasil da América Latina, Galeria Marta Traba, Memorial da América Latina, 2017
41° Salão de arte contemporânea de Santo André Casa do Olhar Luis Sacilotto, 2013
Salão de Novos Talentos da 43a Chapel Art Show – Chapel School, curadora Adriana Estrela – São Paulo, 2012.
Exposição coletiva Semente na Fibra Galeria – São Paulo, 2012
London Art Fair 2007, participação no stand da Long and Ryle Gallery, Londres, 2007.
II Prêmio Maimeri no Liceu de Artes e Ofícios, São Paulo, SP, Brasil, 1999
Formação Universitária
Propaganda e Publicidade, na Escola Superior de Propaganda e Marketing (E.S.P.M.) de São Paulo / SP, em 2007
Artes Visuais, 3° semestre na Faculdade Santa Marcelina, em 2020-2023
Cursos extra-curriculados frequentados
Desenho realista 2017-19, professora Maria José Leite, Ateliê Contra-ponto de Arte Figurativa
Espelho Fragmentado, apresentação e discussão de artistas contemporâneos, aluno especial de pós-graduação de Artes Visuais, com prof. Geraldo Dias, ECA, USP, 2017
Curso livre de Impressão de Gravura em metal com Valdir Flores – Sesc Pompéia, 2013.
Reflexões sobre Pintura, com Paulo Pasta, Instituto Tomie Otahke, 2013
Marketing cultural, E.S.P.M, 2003
O que leva uma cultura a criar uma rede de mentiras para que o progresso fique estacionado?
O projeto busca a realização e afixação nas paredes da piscina de esculturas planas sob a temática dos desenhos e gravuras de monstros marítimos feitos nos séculos XV e XVI, para desestimular as grandes navegações, com o intuito de fazer uma escavação sobre uma rede de informações falsas no passado para denotar as redes de informações falsas da atualidade. Assim, estimular que as hastes do progresso dependem de uma atitude de enfrentamento sobre as ilusões.
Muito se diz hoje sobre uma cultura colonizadora nos lugares colonizados. Mas antes que houvessem as colonizações, antes de virem para esse lado do Atlântico, muito foi dito para se evitar que tal feito fosse alcançado. Os espanhóis, ao contrário dos portugueses que lançaram ao Brasil uma ampla comitiva náutica, enviaram para as Américas apenas três embarcações. Tão improvável era o sucesso da missão de atravessar o oceano em busca de novas terras ou da Índia. Assim como a literatura trovadoresca fantasiava sobre heróis capazes de atravessar os feudos em segurança, os únicos capazes disso, também se fantasiava sobre o Atlântico como habitado por seres devoradores de barcos.
Hoje em dia não temos as fantasias de dragões e super homens capazes do impossível, mas também vivemos uma época de notícias falsas que criam uma rede monstruosa sobre onde estará a verdade. Essa, cada vez mais permeável às narrativas de lado A, B, C, D ou Z.
Instigar o medo no outro para que o progresso estacione, retroceda, para suscitar ódio onde antes havia neutralidade ou alienação, cria uma rede de informações monstruosas onde as tendências de julgamento se apresentam antes dos fatos serem acontecidos.
O incrível é que os registros dessas estratégias de dominação – sobre as forças dos, posteriormente, colonizadores – estão presentes até os dias de hoje e não serão facilmente apagados. Imaginem se daqui a alguns anos disserem que anos-luz se percorrem em horas de viagem espacial? Haverá registros científicos extensos sobre o inatingível tempo de viagem interplanetária atual. E ninguém que eu saiba se interessa por saber como funciona um velocímetro espacial. Apenas dizem que Einstein previu os túneis do tempo no espaço. Quem sabe se Marte não é logo ali?
Nossos monstros e fantasias se dão, atualmente, por redes de informação. Barack Obama diz, por exemplo, que hoje as pessoas vivem em ilhas de informação; para citar, depois, os pontos de vista das redes de televisão. Hoje, não há mais a necessidade da imagem para uma população amplamente letrada. As estratégias atualmente são outras.
A dimensão do tormento, da possessão como perturbações inerentes ao indivíduo (ou aos indivíduos que sofrem ou exercem esses distúrbios) faz pensar que há estratégias ordenadas para opressores exercerem poder sobre oprimidos. Monstros habitam o imaginário das pessoas comuns. Mas pessoas com algum engajamento e oportunidades convivem com aquilo que é monstruoso e isso é uma das características constantes da existência em tempos difíceis. E talvez por presenciarmos visões literais das monstruosidades existenciais: o patriarcado, feminicídio, dependências químicas, racismo; a imagem dos monstros, a imagem do diabo se ausentou dos tempos em que vivemos. Nem mesmo em charges e tirinhas a personificação dos monstros em pessoas está tão presente como no passado. A consciência dos problemas estão elaboradas e conscientizadas.
Oras, vivemos sobre dimensões perturbadoras. Somos apenas espíritos humanos vivendo num ambiente muitas vezes inumano. As bestas e os anjos fazem parte da mesma atmosfera celeste onde somos seres menores. Viver sem a proteção divina, para muitos, é possível. Mas ignorar que a existência das tragédias, assim como a da bondade, ambas as dimensões as quais estamos inseridos, é inútil. Pois participamos de dramas e bem-aventuranças todos os dias, por ação ou não de cada um de nós.
O habitat
Uma piscina seca. Uma casa com piscina, sem que ela funcione. Que casa é essa? Como preencher essa piscina? Com ratos ou com fadas? Uma casa com a piscina ausente é uma casa complexa? Existirão aí fantasmas? Fantasmas são irmãos dos monstros e reviver um cânone da contra-cultura medieval talvez seja um jeito de contar mentiras que as pessoas sabem que são mentiras. Sob essa luz, apontar que, nesse caso, a consciência individual sabe onde está a verdade: afinal, as grandes navegações sucederam sem a presença real dos monstros imaginários.
Uma piscina vazia é o próprio ambiente do acender de luzes simbólicos para seres aquáticos perigosos e imaginários. É encontrar, no ambiente em que os monstros viveriam, suas imagens daquilo que eles não são, justamente por serem fantasias. É a ilustração encontrando o ambiente que ela, simbolicamente, narra: a água vazia. Ou melhor, o recipiente da água sem ela. Como não dá para esvaziar um oceano, a piscina é símbolo do habitat que a ilustração narra e carrega.
A base de referência é, portanto, imagens de seres inventados para assustar. É uma ressuscitação da memória de que o colonizador, antes de ser isso, era reacionário consigo mesmo. Um paralelismo crítico aos múltiplos reacionarismos endógenos atuais. E que foi preciso vivenciar a experiência de cruzar um oceano para constatar que aquelas imagens - internas também - eram ilusões. Assim como pode ser ilusão que a viagem daqui até Marte dure 6 meses.
O ambiente é o território semelhante ao de um País baixo, é uma piscina vazia. É como se fosse um cérebro por onde passam imagens do desassossego.
A mídia
O meio técnico é em referência ao que a pesquisa atual de tantos artistas diz por fatura pictórica. A fatura é abolida pelo lugar da massa, da massa cerâmica que discursa identidades monstruosas por meio do alto e baixo relevo. É a matéria da piscina – a cerâmica – discursando dentro da piscina. São placas de argila que simulam lajotas. Não apresento a massa pictórica dos incríveis Rodrigo Andrade, Ana Sário, Guilherme Ginane ou Maurício Adinolfi. Ou os borrões de Eleonora Koch, Nilda Neves, Daniel Lannes, Lucas Arruda, Jaider Esbel ou Alexandre Wagner; mas a massa, essa, que tanto busquei em meus trabalhos à óleo até a incursão pelos abstratos em 2012, a massa no caso das cerâmicas é dissociada do matiz cromático e da textura pictórica e assim a observação da imagem se dá pela diferença de luz nos volumes e reentrâncias das lajotas.
É uma técnica aprendida do artesanato pernambucano presente no Museu Afro-Brasil onde personagens da arte popular saem das placas de argila – embora não sejam os únicos a se expressarem por placas volumétricas (até o pórtico da Catedral da Sé é assim, fundido em espessas placas de bronze) e também as reminiscência da azulejaria portuguesa em relevo no Brasil, vistos na vitrine de uma instituição cultural em Santos - SP, além das obras de Mestre Vitalino e Antônio Poteiro vistas em livros, coleções e exposições – discursando sobre uma narrativa de como um povo fazia para se auto assustar. É, portanto, um risco de transposição plástica da gravura e do desenho medieval para uma técnica que impõe limites e poéticas outras. É um proveito do reducionismo (de síntese imagética diferente) que a cerâmica provoca e nesse esforço inerente de síntese encontrar a representação do assustador.
Vivemos uma época da abolição dos monstros. Ao mesmo tempo que precisamos de novas experiências para excluir aquilo que nos aflige – viver, por exemplo, a melhor distribuição de renda, a igualdade de gênero, o respeito racial, a igualdade de oportunidades – vivemos, também, com muitas problemáticas e problematizações para desconstruir o ser humano moderno.
Conclusão
Dar voz e luz para uma campanha antiga de falsidade é o jeito que encontrei de dar vazão ao fato de que precisamos enfrentar os enganos para vivenciar uma sociedade de construções e superações inéditas e verdadeiras. É um paralelismo de outra época com a cena contemporânea que habitará no coração de cada um, assim eu espero. E instigar: como entrar e atravessar os simbólicos oceanos que se apresentam diante de nós, com suas feras e perigos imaginários? A tecnologia superou barreiras de distância, agora, a distância maior é dentro de nós. É a piscina, ou seja, o “cérebro-oceano” quase da cor de massa encefálica que apresenta a distância entre os seres (aí incluídos, as esculturas planas afixadas nas paredes da piscina) e as pessoas (visitantes da exposição) sobre aquilo que causava aflição.
Um mundo melhor é possível. O progresso, hoje, depende da resiliência sobre barreiras individuais e coletivas. O que nos prende e nos estaciona enquanto sociedades do atraso depende de evidências de que há falsas monstruosidades. O preto, pardo, amarelo, a mulher, o pobre, são partes de um mundo de inclusão social que proporcionará uma qualidade de bem-estar social superior. A resistência a esse progresso é a adesão a um projeto de falsidade que não foi exatamente orquestrado pelas forças do passado, mas que o presente orquestra para sua manutenção de maneira odiosa e perversa. As falsidades superadas sobre os monstros marítimos europeus são testemunhas de que ir além é possível. Se não de maneira literal como marinheiros atravessando um oceano, ao menos a consciência de que sim, monstros foram enfrentados no íntimo dessas bravas pessoas, assim como monstruosidades também podem ser superadas por nós.
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