Meu momento atual
É difícil se jogar numa compreensão do espaço em meio a mata atlântica, seja do sítio de Pedra Bela, do Horto Florestal de Campos do Jordão ou do Parque da Água Branca em São Paulo. O espaço entre troncos e galhos me leva a simplificações e chega uma hora acho que estou inventando coisas, ou não pegando os detalhes.
Está muito difícil evoluir. É um misto de tudo ao mesmo tempo agora com as somas de aprendizado recente. De minhas aulas de retratos realistas. Dos comentários que as pessoas fazem. Eu sou uma esponja, eu simplesmente absorvo o que as pessoas dizem. Eu não sei, não consigo me voltar apenas a mim mesmo e parar de mostrar os quadros para as pessoas - no momento em que são feitos. Deixo a porta aberta para invasão. E tem gente que sempre quer acrescentar algo. Outras pessoas ficam incomodadas com minhas dúvidas. Aí pego livros de David Hockney, de Van Gogh e vejo que eles também tinham dúvidas, veem e vinham aperfeiçoamentos necessários aos seus percursos. A indecisão é uma natureza das artes. E ao mesmo tempo, sinto falta de minha candura, de meu contato direto com o objeto a ser representado. Sinto camadas de compreensão entre eu e as paisagens. Eu precisava treinar mais desenhos de interiores domésticos. Minha casa é uma zona, a casa de meu pai está com uma decoração minimalista... há a casa de meu irmão, de minha mãe. Mas o tema de interior doméstico apresenta a linha das angulações geométricas do ambiente e a linha das mobílias que me são fáceis de apreender. Preciso reencontrar o caminho fácil. Estou já há quase um ano sofrendo - sofrimento brando - para compreender galhos e copas, aclives de Pedra Bela e caminhos curvos de calçadas no parque da Água Branca. A perspectiva de ambientes abertos me é sofrida de capturar. Não devo parar de insistir. Mas sinto que devo procurar, também, o caminho fácil. Fazer naturezas mortas, interiores... algo que me devolva a certeza da linha solitária no papel. Sem trecê, sem trassados, sem anotações de sombras. Apenas as coisas como que parecem. E confiar, confiar muito, que as imperfeições de apreensão do espaço... quando objetos se fundem no plano perspectivo incorreto... faz parte. Não procuro a perfeição e me esqueci disso. Procuro a certeza. E na certeza há incompreensões. É no treino que vou aprender, ou re aprender a capturar o espaço em sua perfeição. Não sei se já fiz isso. Mas considerar que se dois objetos no desenho parecem mais próximos que na realidade, tudo bem. O importante é fazer algo vibrante, ou delicado, ou harmônico, e assim por diante.
Eu gostaria de me dedicar mais às artes. Não me dedico pouco. Mas sinto necessidade de mais dedicação.
Preciso limpar minha mente. Limpar, limpar, limpar. Me contentar em mim mesmo. Largar Instagram, Facebook, Zap. Parar de mostrar minha produção às outras pessoas. Me voltar a mim mesmo. Mas como me comunicar com as outras pessoas se não por minha arte? Como vou estar presente em suas vidas? Aparecer e mostrar o que faço é um jeito de eu estar presente. Talvez eu precise falar mais sobre arte do que mostrar. Talvez as pessoas sintam que eu absorvo o que dizem e isso as estimula a querer me levar adiante. Não dá. Tenho de me ver bem nesse caminho solitário, mas sem solidão me inserir na vida das outras pessoas com outro zelo pelo que eu faço. Me valorizar cada dia mais. Deixar de ter medo de ser solitário. Antes eu cultuava a solidão e detestava ser solitário. Agora sinto por forças da natureza psíquica ter de ser o contrário. Pois as pessoas se intrometem mesmo.
É muito difícil para mim pensar num desenvolvimento artístico sem compartilhá-lo. Ainda, esconder parte do que faço quando vier gente em casa. Criar um movimento interior. E ir cultuando interlocutores qualificados. Preciso identificar quem são as pessoas interessantes de se mostrar o que faço, como mostrar para elas, como ter suas respostas e como anotar as coisas que dizem.
É difícil distinguir as bobagens das informações qualificadas. Um amigo artista me falou certa vez de abolir as pinceladas das superfícies das colagens. Para deixar todas as pinceladas lisas. Eu nunca fiz isso, mas tenho isso anotado em meus pensamentos. Não só por eu não saber fazer a pincelada lisa, mas por ver na textura da pincelada um elemento relevante no recorte da pincelada a cada pecinha recortada. Se cada zebra é de um jeito, eu lanço a sorte quando faço o recorte em cada cartão de cor pintado com expressividade e recortado em pecinhas menores. É o meu neoconcretismo: todo valor a expressão.
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